sábado, 31 de dezembro de 2011

Retrospectiva CXIFSul 2011 por Roger Minks

O ano de 2011 chegou ao fim. Foi mais um ano de trabalho duro da Coordenação de Projetos Culturais, na pessoa do Prof. Rony Soares Jr., e da diretoria do Clube de Xadrez IFSul, na minha pessoa, para que os enxadristas da nossa instituição pudessem desfrutar o máximo possível dos benefícios oferecidos pelo esporte.
Muitas horas de grande empenho e dedicação foram investidas na formação enxadrística de nossos competidores e na organização dos eventos dos quais participamos. Foram 40 competições em 14 municípios diferentes pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os membros da nossa equipe, graças a média de 3,333 torneios por mês, puderam conhecer vários lugares, fazer amizade com pessoas de outras localidades e absorver experiências de intercâmbio, trabalho em equipe, fraternidade e cooperação, além da cultura adquirida, muito importantes para formação sadia da bagagem cultural do aluno.
Fizemos coisas grandes em 2011. Neste ano tivemos o Campeão e Vice-campeão Sub 18 do I Campeonato Brasileiro de Triatlon Chess, Victor Timm e Roger Minks, respectivamente; Lucélia Vieira em destaque, sendo a primeira enxadrista pelotense a jogar uma final do Campeonato Brasileiro Feminino Absoluto; a melhor colocação de um pelotense no JERGS (Jogos Escolares do Rio Grande do Sul) de xadrez, com o 3º lugar de Roger Minks; dentre outras conquistas. Este foi o ano da corrida pelos ratings. Lucélia, Victor, Rony, Bruno, Gustavo e eu fizemos nossos ratings CBX. Anderson foi além e conseguiu também o rating FIDE. Foram dois IRT’s, o Circuito Oncosinos e um Regional Sul-brasileiro para isso. Montamos em Pelotas um mega-evento para possibilitar os enxadristas do CXIFSul, e de toda região de Pelotas, fazer ou movimentar seus ratings: o IRT Clube de Xadrez IFSul trouxe a Pelotas dois Mestres Internacionais de Xadrez, Alexandru Segal e Joara Chaves, ambos Campeões Brasileiros Absolutos em seus naipes. Foi um evento espetacular organizado magistralmente pelo Prof. Rony, que trabalhou arduamente por meses para realizar o evento, evidenciando o grande comprometimento de Rony com a evolução dos nossos alunos enxadristas, além de sua grande competência. Investimos também na ajuda às pessoas com deficiência, com a ideia de usar o xadrez como ferramenta de integração, lazer, e desenvolvimento intelectual: Rony e Lucélia ministraram um Curso de Xadrez para alunos com deficiência auditiva.
O fim de 2011 marcou dois anos da minha gestão como presidente do CXIFSul. Agora, olhando para trás, em retrospecto, sinto-me muito orgulhoso do trabalho que pude desempenhar com o xadrez escolar ao lado do Prof. Rony. 
O ano de 2010 já havia sido muito promissor, pois tínhamos uma equipe grande e experiente e com bom nível de jogo em âmbito do xadrez de categoria, que nos permitiu vencer as principais competições Sub 18 do Estado do Rio Grande do Sul, marcando nossa equipe como uma das mais fortes do Estado no xadrez escolar. Alguns de nossos enxadristas, como Anderson Martins e Victor Timm, evoluíram a um nível onde conseguiam participar de competições na categoria absoluta e apresentar excelentes desempenhos. Anderson, por exemplo, sagrou-se Campeão Bajeense de Xadrez com apenas 17 anos, de forma que começamos a obter bons resultados em torneios absolutos. Eu mesmo tive o privilégio de terminar 2010 na 5ª colocação do Campeonato Gaúcho Absoluto de Xadrez, aos 16 anos de idade.
Quando 2011 começou, no entanto, a outrora equipe vencedora do CXIFSul começou a se diluir. Felipe Ribeiro, Jéssica Martins, Leonardo Rodrigues e Diana Ness migraram para a equipe de basquete; Thales Ferrari, Rafael Neves e Thuany Campello saíram do Instituto; José Leite, Francilon Simões, Taniely Bório e Flávio Holz tiveram que se concentrarem mais nos estudos e no trabalho; sem mencionar outros tantos que se perderam no caminho. Começamos 2011 com apenas 4 enxadristas certos na equipe: Anderson Martins (que nem mais aluno era) Victor Timm, Lucélia Vieira e eu. Confesso que em alguns momentos tive vontade de chorar. Tinham os eventos para ir e quando tentava reunir a equipe só obtinha negativas. Apesar de sempre termos enxadristas ocasionais (aqueles que jogam um evento e outro, mas não que possuem comprometimento com o Clube), nos era necessário ter uma equipe fixa. E como proceder? Certo dia, no final de fevereiro, ainda no começo do semestre, estava no Clube observando os alunos novos do instituto que apareciam para jogar, e pensei que eles podiam ser a solução. Mas havia outro problema (mais um!): como fazê-los jogar em um nível aceitável para as competições? Até então, todos os enxadristas da equipe evoluíam em nível de jogo graças a esforços quase que estritamente pessoais totalmente furtados de método. E essa falta de método, esse mergulho às cegas no mundo da teoria do xadrez, infelizmente não nos dá data nem garantia de retorno.
Pensei na minha própria experiência e como foi difícil começar a estudar sozinho, assim como as dificuldades que tinha por causa da falta de um treinador para dizer por onde seguir. Foi aí que tive talvez a minha melhor ideia em todo meu tempo no CXIFSul: os guris iniciantes precisavam de um treinador, de um curso que os auxiliasse e os instruísse. Foi então que montei o Curso de Xadrez do CXIFSul, que ensina fundamentos básicos e intermediários de Teoria do Xadrez. E acertei na mosca: os guris passaram a evoluir muito rapidamente, pois seus esforços pessoais eram otimizados pelo planejamento do Curso.
É verdade que o Clube já havia oferecido cursos de xadrez antes de mim, mas nunca com um perfil tão aprofundado e extenso (depois de finalizado o Curso os enxadristas estudam nos Treinos Semanais da Equipe) e com um trabalho tão focalizado.
Hoje, quase um ano depois disso, vejo o quão importante foi minha decisão de construir o Curso de Xadrez, pois a nossa Equipe Titular atual é 60% formada por alunos que fizeram o Curso. A meninada do Curso, com poucos meses de treino, já pôde conquistar várias medalhas e alguns títulos no xadrez escolar Estado afora. É mérito deles essas conquistas. Eu só indiquei a trilha, e a maioria a percorreu de forma surpreendente.
Alguns me surpreenderam mais que os outros. Na verdade foi uma surpresa tão grande que acho necessário citar o caso de três marrecas.
Primeiramente, Bruno de Moraes Teixeira, o indisciplinado com disciplina. Sempre com o boné enfiado na cabeça e combinando estranhamente bermudas com meias até as panturrilhas, Bruno já era conhecido de outros carnavais da equipe do CXIFSul. Ele jogava xadrez na equipe da Escola Félix da Cunha, de forma que dos meus filhos, ele é único adotado. Apesar de ter sido o único dos meus alunos com alguma experiência, o Bruninho tinha, no começo do Curso, o estranho dom de fazer lances barbaramente criativos e ao mesmo tempo incrivelmente ruins. Era um pouco impulsivo (não mais do que Gabriel Silveira), mas isso já refletia seu espírito decidido. Foi o que mais rápido evoluiu. Em poucas semanas, ele já era o melhor enxadrista dentre os novos. Mesmo sendo um pouco desleixado, e com um conformismo que beira a total desorganização, Bruno é visivelmente dedicado as coisas que gosta e mostra talento inegável para jogar xadrez. Apontado por Daniel Pertuzatti e Anderson Martins para ser quem vai superar Victor e eu em curto prazo, Bruno necessita apenas, a meu ver, de um pouco mais de maturidade e foco. Também precisa se decidir em alguns aspectos de estilo de jogo, pois ele é aquele que diz que o xadrez se resume à tática e mesmo assim estuda avivadamente estratégia.  Tornou-se meu maior companheiro para jogar ping – é raro o intervalo de aula que eu não vá ao Clube surrar o Bruninho. Logo caiu nos tentáculos do maior vício do CXIFSul, o jogo de truco; e durante um período comecei a desconfiar que ele estava jogando mais truco do que xadrez. Muito perspicaz, e com sarcasmo bem colocado, Bruno não gosta de nada com hora marcada. Quantas vezes ele chegou atrasado à minha aula por ter parado na caminho para comprar um copo de Milk-shake... Também tem uma postura que as vezes faz eu chamá-lo de marginal, pois pratica bullying de forma descarada: pobre do Gabriel, ou Gordo, como é chamado. Para concluir o caso Bruno, deixo aqui uma reclamação: ele precisa parar com esse irritante hábito de querer ficar na minha frente nos torneios.
Depois, Gustavo dos Santos Cardoso, o anti-enxadrista que já ousou chamar Karpov de cagão. Possivelmente foi o único que não andou trilhando os caminhos do jogo tático. Possui estilo estratégico desde o começo, e Arthur Patroclo e eu temos parte da responsabilidade nesse aspecto devido a nossa influência. Aluno aplicado, tanto no xadrez como na eletrônica, Gustavo talvez tenha sido o menino de 14 anos mais dedicado que eu conheci. Rapidamente ele passou a dominar os tópicos que eu ensinava no Curso, e ao final deste, já sabia boa parte dos temas abordados nos Treinos da Equipe. Esse adiantamento, e um pouco de afobamento também, fez Gustavo sair em busca de conhecimentos mais profundos. Nessa busca, ele acabou esbarrando em Arthur Patroclo, que se surpreendeu com a determinação de Gustavo em aprender. Patroclo me disse: “Esse garoto vai me superar em dois meses. Você disse que vai ser mestre em um ano... ele é que vai ser!”. Talvez o mais disciplinado de todos (título que disputa com Isis e Joel), era inicialmente o mais tímido depois da sumida Adriana; timidez que ele pareceu suprimir totalmente nos últimos meses. Muito centrado, e o colega concorrente mais perigoso do Bruno para os títulos da categoria Sub 16, é o único enxadrista que eu conheço que possui um verdadeiro caso de amor com regulamentos e protocolos. Já começo a desconfiar que o êxtase de um torneio para ele seja o congresso técnico. Infelizmente isso pode acabar sendo prejudicial. Ele precisa entender que as regras são uma referência, e que sem sensibilidade suas aplicações tornam-se incoerentes. Já cheguei a pensar que Gustavo seria, um dia, meu sucessor com Presidente do Clube, mas hoje acho que ele tem uma inclinação muito maior para colaborar fraternalmente com seus colegas do que assumir uma posição de liderança. Dos que chegaram a um nível diferenciado, Gustavo é o que tem, a meu ver, maior compromisso com o Clube de Xadrez. Cumpri quase em sua totalidade seus compromissos como enxadrista da equipe. Ganhou minha admiração há poucas semanas, quando eu estava organizando a viagem para o Regional Sul Brasileiro em Dois Irmãos; ele chegou à minha sala e me perguntou: “Roger, eu vou poder ir a Dois Irmãos?”, e  lhe respondi que eu havia conseguido ajuda de custos apenas para o Bruno. Dias depois ele me disse “Será que tu podes colocar meu nome na lista de passageiros? Eu vou pagando minhas despesas.” Tirei o chapéu pro Gustavinho. Hoje ele é o meu enxadrista mais completo.
Por fim, Guilherme Corrêa Carvalho, que acha que eu não sei que ele me chama de nerd chato pelas minhas costas. Confesso que eu gostava mais dele no começo do ano, quando ele não era tão falante, pois agora ele não cala a boca um segundo. É possível que Guilherme tenha sido o enxadrista que entrou no Clube em pior situação: em seu primeiro torneio ficou em último lugar e esteve perto dessa posição no torneio seguinte. E partindo dessa perspectiva inicial tão desfavorável, foi o que teve a evolução mais surpreendente: dois meses depois de resultados tão ruins, Guilherme ficou em terceiro lugar (à frente de Gustavo Cardoso) em um torneio que teve como campeão e vice-campeão Gustavo Hernandez e Bruno Teixeira, respectivamente. Guilherme é um cara realmente inteligente. Depois que entende o princípio da coisa ele fez uma cara que expressa um “Ah! É assim...?” e depois o resto flui naturalmente. Apesar de eu já tê-lo visto inúmeras horas debruçado em cima de livros de xadrez, ainda continuo achando que boa parte das vitórias de Guilherme é fruto de uma intuição privilegiada. Às vezes realmente parece que ele “sente” a posição no tabuleiro. Para quem entrou no Curso nas últimas posições, Guilherme surpreendeu ao jogar de igual para igual com os que saíram à frente. Tornou-se quase que natural ver Guilherme na frente de Gustavo e Bruno (e eventualmente na frente até mesmo do Victor). Contudo, nem tudo são flores. Infelizmente Guilherme sofre aparentemente de “desorganização crônica”, uma doença que se torna mais grave quando ele esquece (ou finge esquecer) que a autoridade não é ele. Quando frustrado, ele resolve chutar o balde (ainda não digeri ao todo algumas atitudes dele no Regional Sul-Rio-Grandense Escolar), o que revela uma grande falta de maturidade. É verdade que isso pode ser culpa dos hormônios que estão a mil na idade dele, mas nada que a batuta não resolva (estou brincando, é claro). Como já disse, acho Guilherme inteligente. Por isso acredito na capacidade dele de identificar seus problemas internos e resolvê-los. Se assim o fizer, sem dúvida ele marcará seu nome na história do Clube de Xadrez.
Apesar de esses três terem tido destaque especial no ano de 2011, não pensem que eu esqueci os meus outros alunos. Todos eles, de uma forma o outra, me fizeram em algum momento sentir orgulho do trabalho realizado. Isis, Gilmar, Felipe Couto, e Jéssica Martins (que voltou a equipe dividindo tempo entre o basquete e o xadrez) e Gabriel tiveram também seus momentos de glória em 2011. Tenho certeza que o momento de Joel chegará em 2012. Todos estes que citei, e outros que por algum motivo começaram o ano conosco e tiveram que deixar a equipe no caminho, sem dúvida foram os responsáveis por boa parte das conquistas do CXIFSul neste ano que se foi. Foi para eles que eu dediquei, e ainda dedico, inúmeras horas do meu tempo, voluntariamente durante um longo período, mesmo prejudicando a mim mesmo como enxadrista em muitas ocasiões. Não me arrependo de nada. Sei que meus muitos erros foram tentando acertar o melhor para a gurizada. Meu único remorso é o que talvez fosse possível ter feito coisas a mais, maiores. Mas não há de ser nada... Temos um ano todo pela frente, e há quem diga que será o último. Pelo menos para mim será, como enxadrista e como Presidente do CXIFSul.


Um ótimo 2012 para todos!
Roger Minks

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